Começou
assim também. O povo foi pras ruas insuflado por discursos inflamados.
Por causa do aumento do pão derrubaram a bastilha, se apoderou da
munição que lá estava estocada e enfrentou os soldados do Rei.
Depois num extraordinário trabalho manual, não deixou restar um único
tijolo. Recolheram-nos todos para casa e os venderam como símbolo de um
passado de opressão.
Enquanto isso, outras reivindicações foram adicionadas as reivindicações
principais. Sob pressões das mudanças em curso, o Rei entregou a
economia a uma pessoa simpática ao povo que além de tomar medidas
populares, passou a dá declarações inflamantes, como dizer que o Rei não
devia deixar faltar pão para o povo. O povo vibrava. Cada vez mais a
autoridade do rei era reduzida e ridicularizada.
O Rei para retomar os poderes de estado que lhes pertencia demitiu esse
ministro. A notícia percorreu toda Paris como um rastilho de pólvora.
Mulheres que negociavam com peixes marcharam para o palácio de
Versalhes, cerca de 20.000 com enormes facas nas mãos. Mataram toda a
guarda real, com requintes de crueldade, em frenesi gritando: "dá um
pedaço para mim" e se dirigiram para os aposentos da rainha Maria
Antonieta, queriam matá-la, fazer picadinho dela.
Não a encontrando, pinicaram o colchão de sua cama. 60 mil pessoas se
aglomeravam em frente ao palácio real, a espera da decisão do Rei de
sair de Versalhes e ir para o palácio das Tulherias em Paris. Finalmente
o rei decide ir.
É feita a convocação dos Estados Gerais que não se reunia há mais de 150
anos. Uma monarquia constitucional foi criada. Nas discussões os
revolucionários que não representavam 10% da população foram postos para
fora. Uma artimanha para impedir que os representantes do povo
participassem das decisões que seriam tomadas.
Resolveram ficar de fora do prédio onde se reunia os Estados Gerais,
fizeram uma assembleia só sua e redigiram uma nova constituição
intitulada a Declaração dos Direitos dos Homens que dentre outras coisas
aprovaram a igualdade entre os homens, a liberdade a fraternidade e a
liberdade de imprensa.
Essa mesma assembleia decidiu que para a revolução não refluir era
necessário declarar guerra a Áustria, a Rainha era austríaca e os
revolucionários temiam a contrarrevolução das monarquias vizinhas da
França. Enviaram um exército para fronteira e inicia-se a guerra.
Enquanto os líderes do movimento cuidava da França, um grupo chamado sem
Culotes [pecha que as pessoas desse grupo usou para diferenciá-los dos
aristocratas que usavam um tipo de meia que ia até o joelho] toma conta
das ruas de Paris. Governam a cidade luz em meio ao caos.
O exército francês tem sucessivas baixas e o exército inimigo se
aproxima de Paris. Seu comandante avisa que se o Rei morrer, ninguém em
Paris ficará vivo.
Os sem Culotes temendo o massacre da população da capital, invadem as
masmorras e matam todos que apoiavam a monarquia, num julgamento
frenético e sanguinário.
Os revolucionários que eram contra a pena de morte silenciam. Uma enorme
repercussão negativa chega ao restante da Europa. A imprensa
estrangeira ao tomar conhecimento diz que que aqueles atos praticados
"eram piores do que os dos quadrúpedes, mas bípedes estavam a
cometê-los."
Os revolucionários assumem o controle. A pretexto de humanizar a pena de
morte que naquela época era praticada sob as mais cruéis e diferentes
formas, encomendam a um médico um invento que veio a cair como luva que
se popularizou pelo nome dado por Marat, guilhotina. O sentenciado tinha
a cabeça decepada do corpo num ritual rápido e eficaz.
O Rei tenta fugir e é recapturado. Marat, um mendigo amargurado que
encontrou na revolução uma via de escape para suas frustações, passou a
ser a principal voz da revolução na imprensa, era editor de um jornal
que alimentava um ódio mortal a monarquia, usava as páginas de seu
jornal para pedir o expurgo de todos que sobreviveram à revolução e que
pertenciam a aristocracia.
Robespierre diz que o Rei tem que morrer. Os revolucionários são contra.
Robespierre insiste que se o Rei não morrer a revolução morre, porque
ou o Rei está certo e a revolução errada ou a revolução certa e o rei
errado. Morre o Rei. Depois a Rainha, vítima de um julgamento infamante
cuja sentença tinha sido previamente determinada. Num dado momento da
apresentação das acusações contra a Rainha, figura a mais torpe de
todas, a que ela teria praticado incesto. A Rainha se ergue no
julgamento e fala para as mulheres presentes: " como pode uma acusação
tão abjeta ser lançada e nenhuma das mulheres aqui presentes se
indignar?" A acusação é retirada, a Rainha sentenciada e morta na
guilhotina.
Danton, outro revolucionário surgido em meio a catarse coletiva discursa
a favor do alistamento para o exército francês e diz que é necessário
combater a contrarrevolução, senão a revolução morre. Agora o alvo são
os próprios cidadãos comuns do povo que apoiavam a monarquia. Numa única
cidade 100 mil franceses são mortos. Alguém observa a Danton que houve
exagero naquela grande carnificina. Danton diz que não se faz revolução
com flores.
Entre o povo eclode inúmeras insatisfações com os rumos da revolução. Os
revolucionários não poderiam cuidar de uma guerra em andamento e das
insatisfações internas do povo. Danton com sua oratória incendiária
sugere que medidas mais duras têm que ser adotadas.
Diz que é necessária instituir a política do terror que consistia em
prender, julgar e sentenciar à morte todo cidadão francês que não
mostrasse vigor e entusiasmo com a revolução.
A declaração dos direitos dos homens é suspensa. Agora a revolução
alcança sua etapa mais sombria. Não tinha mais os aristocratas da
monarquia, os contrarrevolucionários que lutaram pelo fracasso da
revolução. Estes já não mais existiam. Foram todos sumariamente
eliminados. A revolução se voltava contra seus próprios apoiadores,
aqueles que a iniciaram mas que demonstravam descontentamento com os
rumos que ela tomava.
Cria-se um clima de suspeição, vizinho denunciando vizinho por conversas
banais. Marat era o maior incentivador. Milhares são mortos. Marat que
tinha o costume de abrir as portas de sua casa para receber denúncias
contra traidores e publicá-las em seu jornal, assegurando aos
denunciantes que os denunciados seguramente morreriam, foi vítima de um
ardil montado por uma mulher vinda do interior da França que repugnava o
clima de matança baseado no denuncismo que entra em seus aposentos,
mostra-lhe uma lista e o fere mortalmente com uma pequena faca.
A mulher não foge, fica. Diz que com a morte de Marat a França teria
paz. Marat vira mártir . Tem quadros pintados e passa a ser visto como
santo em todas a Paris. Até curas milagrosas são atribuidas a ele. O
culto a Marat percorre toda a Paris. Fora e dentro das igreja é adorado.
Á Marat historiadores atribuem pelo menos a responsabilidade direta de
mais de 200.000 mortes.
Danton quer levantar a política do terror, Robespierre é contra. Ao se
reunir com seu grupo para debater o fim da política do terror que
ajudara criar, Danton é preso e tal qual os inimigos que vira morrer,
foi sentenciado a pena de morte na guilhotina.
Antes de ter a cabeça desmembrada do corpo, referindo-se a Robespierre declara: " Não esperava ir antes desse rato".
Robespierre assume o controle da revolução, declara o governo da
virtude. Manda destruir tudo que simboliza adoração religiosa, persegue e
mata milhares do clero.
Quando confrontado pelos seus companheiros em relação à posição assumida
de decretar com tanta energia a pena de morte, se antes com igual
energia era contra, reponde que os tempos mudaram.
Robespierre cria um novo calendário que começa com o ano da revolução.
Declara aberta a festividades da razão e aparece de branco, como se
fosse um deus e choca a multidão.
Sentido o peso da desaprovação popular pelo gesto tomado, aparece em ira
na assembleia e faz um forte discurso contra os traidores da revolução
que dizia estarem no parlamento, sem contudo declinar os nomes, apenas
vociferando possuir uma lista para mostrar na próxima reunião.
Ao voltar para cumprir com a ameaça de mostrar quem eram os traidores,
Robespierre não consegue discursar, seus poderes foram declarados nulos.
É recolhido. Seus amigos se suicidam. Robespierre dá um tiro em sua
própria mandíbula numa tentativa de se matar. Sobrevive e fica
agonizando em cima de uma mesa na sala do parlamento sendo escarnecido
pelos seus antigos companheiros.
É levado para guilhotina e morre. Surge Napoleão, o salvador da pátria.
A revolução francesa, um movimento que começou com protestos de rua e
terminou em uma das mais negras páginas da história, teria algumas
semelhanças com essas marchas nas ruas do Brasil?
* Texto escrito e enviado por Kid Jansen de Alencar Moreira [E-mail: kid_jansen@hotmail.com]
Nenhum comentário:
Postar um comentário