domingo, 18 de outubro de 2015

AQUI JAZ UM PARTIDO...

Da Coluna Fábio campos, no O POVO deste domingo (18):
Fui filiado ao PT entre a segunda metade da década de 1980 e a primeira metade da década de 1990. Abri mão da filiação muito menos por discordar de seus bons ideais daquela fase ainda imberbe do partido e muito mais por imposições éticas da profissão que abracei. É evidente que jornalismo não combina com alguns outros “ismos”, principalmente os partidários.

O PT que conheci por dentro tinha lá seus defeitos, que não eram os de hoje. O partido era plural. Lá, convivi com a diversidade de posições. Estimulava-se o conflito de ideias. Seus encontros se transformavam em tribunas livres. Havia frescor e um projeto de futuro que, mesmo meio confuso, não deixava de ser estimulante.

O início do século 21 marcou a chegada de um PT descaradamente pragmático. Lembro-me com clareza, já como experiente colunista de política, quando o partido decidiu acabar com o embate de teses políticas em seus congressos. Sintomático do que viria pela frente. O pragmatismo rapidamente tomou conta do petismo, que ficou bem menor que Lula. Na verdade, o petismo se integrou ao lulismo. Daí a feliz expressão “lulo-petismo”.

Lula venceu as eleições presidenciais de 2002. Dali pra frente, o partido radicalizou mais ainda o seu pragmatismo. Manter-se no poder passou a ser o fundamento que dramaticamente se interpôs sobre qualquer outra ideia ou ponto de vista. O PT passou a se confundir com o Governo. O resultado era previsível: a rápida decomposição ética.
O PT capturou em benefício próprio os mecanismos de corrupção que impregnam o sistema político brasileiro. Capturou e os transformou em método político e de exercício de poder. Sem voz discordante, sem voz de ponderação, sem vozes críticas. Não há hoje na sigla nenhum movimento interno buscando elaborar uma análise honesta acerca de tamanha degradação moral exposta no noticiário cotidiano. Quem discordava tinha a porta da rua como serventia da casa.
O sociólogo (de esquerda), Marco Aurélio Nogueira, escreveu o seguinte sobre o petista típico, um simplório político: “Maniqueísta, sempre necessitado de um inimigo exclusivo e sempre propenso a responsabilizar os outros por suas falhas e limitações, dogmático em excesso, muito autocentrado, desatento às mudanças estruturais em curso”.

Poderia ter dito ainda que o petista típico, com honrosas exceções, se acostumou aos cargos de confiança e às ONGs financiadas pelos cofres públicos. Ou seja, vive do poder. Fico estarrecido quando leio que o partido pagava R$ 50 mil por mês para um humorista de internet falar bem da presidente.

Quase uma década antes do escândalo do petrolão, Cesar Benjamin, cientista político cofundador do PT, disse à revista Época: “Isso (o poder) foi vivido como ascensão social para um grande número de quadros, de lideranças do PT, que mudaram individualmente de classe social. Passaram a ter um nível de vida que não tinham e viveram isso muito alegremente”. Cesar havia deixado o partido em 1995.

Aqui jaz um partido. Mesmo que sobreviva (e vai sobreviver), o PT jamais conseguirá resgatar os ideais que motivaram a sua criação. Hoje, não passa de uma trincheira de interesses escusos. Esta será sua marca indelével.

Fonte: Blog do Eliomar

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