Da Coluna Fábio campos, no O POVO deste domingo (18):
Fui filiado ao PT entre a segunda metade da década de 1980 e a
primeira metade da década de 1990. Abri mão da filiação muito menos por
discordar de seus bons ideais daquela fase ainda imberbe do partido e
muito mais por imposições éticas da profissão que abracei. É evidente
que jornalismo não combina com alguns outros “ismos”, principalmente os
partidários.
O PT que conheci por dentro tinha lá seus defeitos, que não eram os
de hoje. O partido era plural. Lá, convivi com a diversidade de
posições. Estimulava-se o conflito de ideias. Seus encontros se
transformavam em tribunas livres. Havia frescor e um projeto de futuro
que, mesmo meio confuso, não deixava de ser estimulante.
O início do século 21 marcou a chegada de um PT descaradamente
pragmático. Lembro-me com clareza, já como experiente colunista de
política, quando o partido decidiu acabar com o embate de teses
políticas em seus congressos. Sintomático do que viria pela frente. O
pragmatismo rapidamente tomou conta do petismo, que ficou bem menor que
Lula. Na verdade, o petismo se integrou ao lulismo. Daí a feliz
expressão “lulo-petismo”.
Lula venceu as eleições presidenciais de 2002. Dali pra frente, o
partido radicalizou mais ainda o seu pragmatismo. Manter-se no poder
passou a ser o fundamento que dramaticamente se interpôs sobre qualquer
outra ideia ou ponto de vista. O PT passou a se confundir com o Governo.
O resultado era previsível: a rápida decomposição ética.
O PT capturou em benefício próprio os mecanismos de corrupção que
impregnam o sistema político brasileiro. Capturou e os transformou em
método político e de exercício de poder. Sem voz discordante, sem voz de
ponderação, sem vozes críticas. Não há hoje na sigla nenhum movimento
interno buscando elaborar uma análise honesta acerca de tamanha
degradação moral exposta no noticiário cotidiano. Quem discordava tinha a
porta da rua como serventia da casa.
O sociólogo (de esquerda), Marco Aurélio Nogueira, escreveu o
seguinte sobre o petista típico, um simplório político: “Maniqueísta,
sempre necessitado de um inimigo exclusivo e sempre propenso a
responsabilizar os outros por suas falhas e limitações, dogmático em
excesso, muito autocentrado, desatento às mudanças estruturais em
curso”.
Poderia ter dito ainda que o petista típico, com honrosas exceções,
se acostumou aos cargos de confiança e às ONGs financiadas pelos cofres
públicos. Ou seja, vive do poder. Fico estarrecido quando leio que o
partido pagava R$ 50 mil por mês para um humorista de internet falar bem
da presidente.
Quase uma década antes do escândalo do petrolão, Cesar Benjamin,
cientista político cofundador do PT, disse à revista Época: “Isso (o
poder) foi vivido como ascensão social para um grande número de quadros,
de lideranças do PT, que mudaram individualmente de classe social.
Passaram a ter um nível de vida que não tinham e viveram isso muito
alegremente”. Cesar havia deixado o partido em 1995.
Aqui jaz um partido. Mesmo que sobreviva (e vai sobreviver), o PT
jamais conseguirá resgatar os ideais que motivaram a sua criação. Hoje,
não passa de uma trincheira de interesses escusos. Esta será sua marca
indelével.
Fonte: Blog do Eliomar
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