Em 151 municípios, população recebe água pela
Operação Pipa. Estudo indica que 60% da água distribuída está contaminada.
Na Dinamarca cearense, só se
chega com carro grande e encarando a poeira que sobe na estrada. Ao contrário
do país nórdico, a Dinamarca cearense está longe do mar. À localidade fica a
uns 10 km da sede do município de Santa Quitéria, no Sertão. E ali, nestes
tempos de céu sempre aberto, só o carro-pipa salva. O que está garantindo água
na casa de Maria Soares Mesquita, 55, e em outras sete moradas da comunidade
chegou na última quinta-feira - para alegria da dona de casa, que garante: a
água entregue ali é de qualidade. “A gente vê que é boa.”
A “garantia” da dona de
casa, porém, não está refletida em relatório elaborado pela Secretaria da Saúde
do Estado (Sesa). Em maio, o órgão analisou 381 amostras de água de 28
municípios (os únicos que possuem carros-pipas cadastrados no sistema de
informação e coletaram amostras) e concluiu que 60% das amostras estavam
contaminadas: 18% (70) com a bactéria Escherichia coli e 42% (160) com
coliformes totais.
O coordenador de Promoção e
Proteção à Saúde do Estado, Manoel Fonsêca, cita que a má qualidade da água
interfere na saúde. “Temos aumento de casos de diarreia. Infelizmente, a água
ofertada (por carros-pipa) é de reservatório superficial, como açudes, que,
normalmente, não são cercados, e as pessoas usam para outros fins”.
O Estado distribui
hipoclorito de sódio para o tratamento domiciliar da água. Porém, cita a
supervisora de Vigilância em Saúde Ambiental, Gláucia Norões, esse tratamento
deveria ser complementar, não único. Solução para o problema, indicam Gláucia e
Manoel, seria a aquisição de estações de tratamento de água móveis,
equipamentos que tratam mesmo a água retirada de mananciais superficiais.
Enquanto não há estações
móveis, as pastilhas de cloro devem ser utilizadas pelos pipeiros, frisa Manoel
Fonsêca. Valmir Benevinut sabe disso. Pipeiro que deixou água, semana passada,
para as casas da Dinamarca cearense, ele pega 8 mil litros d’água no rio
Guaíra, em Santa Quitéria (porque “só tem de lá pra tirar”), e coloca duas
“pedras de cloro” no tanque. “Aí vem limpando a água”, explica. “É bem tratada
e a gente ainda filtra”, confirma o agricultor Francisco Tributino da Silva,
43, morador da localidade.
Enquanto acompanha o despejo
da água na frente de casa, a dona de casa Maria agradece e sonha: “Graças a
Deus tem pelo menos essa água. Estou pedindo a Deus que chegue o inverno e
venha água pra gente.” Amém, dona Maria.
Serviço
Observatório da seca
O Governo Federal mantém um
site com informações sobre as ações governamentais para convivência com a seca.
Acesse: is.gd/gOkWVbl0
Resumo da série
Em três dias, O POVO mostrou
que a seca tem afetado a saúde do sertanejo. São problemas como surtos de
diarreia e aumento de casos de dengue. Ontem, o risco de falta d’água em 40
municípios até o começo de 2014 foi destaque. Hoje, lembramos que a qualidade
da água é fundamental quando falamos de saúde.
O Povo
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